Televisão essa que através da oferta de filmes, das séries emblemáticas e da imigração de estrelas do cinema para os canais temáticos difundidos no cabo, tem aqui na PREMIERE uma atenção militante quando alertamos para a importância especifica desse fenómeno. Antes de mais, é preciso aceitar o principio de que a televisão, tal como a conhecemos, acabou há muito e com ela um modelo de criação e distribuição de informação e ficção que, porventura mais do que qualquer outro, tem feito dos países europeus e dos europeus aquilo que eles são enquanto cidadãos e enquanto europeus. Como diria Nuno Artur Silva,
o que está a fazer disparar toda esta mudança é uma revolução na rede tecnológica que sustenta e determina a informação (O Meio é a Mensagem), a formação, o entretenimento, as histórias, a economia e a cultura, os heróis e as sagas, os valores e as crenças, as novas mitologias, as realidades e os sonhos que são a matéria irreal de que somos feitos. Esta reflexão não faria sentido sem que nos interrogássemos sobre o panorama televisivo generalista que se apresenta em grande parte dos países europeus. Sendo assim, tudo indica que, por exemplo, a exibição dos filmes, de que tanto gostamos, na televisão dita generalista, tal como a conhecemos, estão num claro declinio, em termos de adesão, em grande parte dos países europeus, onde foram relegados para hórarios tardios. No que diz respeito aos conteúdos televisivos mais populares (exceptuado, em alguns países onde ainda passam em regime aberto, os grandes jogos de futebol) dificilmente se alcançam os números de telespectadores dos finais do século XX. A televisão, em geral e tal como a conhecemos presentemente, corre o risco de criar e sustentar o conceito de dois mundos. o dos mais endinheirados, que podem aceder ao cabo e á banda larga e suportar o preço da escolha personalizada, e o dos pobres, a quem resta apenas o fluxo dos
reality-shows/novelístico das
generalistas; um caudal immparável de entretenimento básico que irá influenciar e orientar o caractér básico dos seus consumidores. Com menor ou maior sucesso, é isso que os canais generalistas europeus, em geral, apresentam ou vão desenvolvendo como estratégia de fixação de um público cadastrado, fiel e sem poder de compra cada vez mais fragmentado e estratificado. Não admira, portanto, que uma publicação como a nossa, orientada particularmente para a produção, realização, distribuição e exibição de cinema, esteja disponível para se ocupar de forma semelhante no que respeita ao fenómeno da ficção televisiva.
Por Jorge Paixão Da Costa in PREMIERE